Além de escritor, Atef Abu Saif foi ministro da Cultura da Autoridade Nacional Palestina. Mora em Ramallah, na Cisjordânia, e estava em Gaza cumprindo uma agenda de trabalho quando grupos da resistência armada palestina realizaram uma série de ataques ao território israelense, prontamente respondidos por Israel com todo seu poderio militar. Encurralado na estreita faixa territorial sob intenso bombardeio junto com seu filho, parentes e outros 2,3 milhões de compatriotas, Atef começou a escrever — e escreveu todos os dias até que conseguiu sair de Gaza, quase três meses depois. Quero estar acordado quando morrer é resultado desse diário do genocídio, publicado simultaneamente por editoras de dez países.
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Há um leve consolo em ouvir o som de um foguete: você sabe que ele não vai te atingir. Você não é o alvo. Essa é uma lição que todos os moradores de Gaza aprendem. Quando você é o alvo de um foguete, você não ouve sua chegada. Só existe a morte. Você simplesmente morre. E, ainda assim, acho que vejo a morte nos meus sonhos, e ela se demora, se anuncia. Ouço seus passos. Vejo seus dentes. E nada do que a gente aprende enquanto pessoas, enquanto espécie, realmente nos ajuda em momentos como esse. Tenho que parar, por um momento, para deixar um pastor cruzar a rua com seu rebanho. Centenas de ovelhas e cabras passam por mim. Todas parecem cansadas. Talvez não tenham sido alimentadas por dias. Fico sabendo que o pastor está na rua por ter sido forçado a evacuar seu estábulo. Ele me confirma que não sabe onde esconder os animais, então os guia pelas ruas. “E de noite?”, pergunto. “Eu durmo onde estou, e eles dormem do meu lado.”
— Atef Abu Saif, trecho do livro